Voluntários na copa: ratificação de uma exploração escandalosa







Os novos e reiterados  escândalos de corrupção na FIFA, que fizeram com que dois dos seus maiores patrocinadores, Emirates e a Sony, desistissem de continuar sendo seus parceiros, por não quererem ver suas imagens ligadas a tamanha corrupção, motivou-me a voltar ao assunto dos 15 mil “voluntários” que foram explorados na Copa do Brasil. Para muitos empreendedores que sofrem diariamente com a “caça as bruxas” do Ministério Publico do Trabalho que, com a chancela da Justiça do Trabalho, transforma contrações formais em ilegais, como por exemplo no processo de terceirização, foi uma grande frustração o “olhar de paisagem” que fizeram aqueles órgãos, mas principalmente o Ministério do Trabalho e as Centrais Sindicais, quanto a ilegalidade do uso de voluntários em beneficio da Fifa. 
A verdade é que perdeu-se uma oportunidade ímpar para por fim a esta vergonha, verdadeira aberração,  infelizmente com o aval de governos e interessados no negócio bilionário do futebol. Teríamos deixado, talvez, o maior legado, para os próximos mundiais, acabar com a exploração dos incautos amantes do futebol, que de boa fé doam parte do seu precioso tempo em beneficio do enriquecimento ilícito da FIFA. 
O escritor, repórter investigativo e documentarista britânico, Andrew Jennings, autor do livro, Jogo Sujo – O mundo secreto da Fifa -  em longo artigo escrito exclusivamente para o Jornal Estado de São Paulo, publicado no caderno Aliás de 15/06/2014 – pag. D3, sugeriu,  no seu artigo, para que os brasileiros aproveitassem a Copa para cobrar transparência da entidade máxima do esporte. 
O glamour de uma Copa do mundo e o sentido aventureiro acabam entorpecendo, principalmente, os jovens, a facilitar os procedimentos ardilosos dos oportunistas, processo facilitado no Brasil pela atuação da Rede Globo, que por sua vez se utilizou da imagem do Ronaldo fenômeno. 
“Todo mundo sabe que a Fifa tem uma imagem ruim, mas a entidade é dona do maior produto da Terra: a Copa do Mundo de futebol.” (Amir Somoggi – Consultor de  Marketing e Gestão Esportiva)
Lamentavelmente o orgulho de sediar um mundial, turva o sentido crítico da sociedade, que acaba aceitando com muita facilidade as atitudes maquiavélicas dos dirigentes da Fifa,  além do extraordinário legado de prejuízos que sobram, invariavelmente, para os Países sede. Pois bem, tentamos de todas as maneiras, à época, chamar à atenção da sociedade e da opinião publica contra esta verdadeira anomalia, fato perverso, que a Fifa, o Comitê Organizador Local e a CBF, iriam cometer,  com a triste ajuda do  Ministério do Trabalho, do Ministério Publico e das Centrais Sindicais. A Câmara dos Deputados chegou a realizar uma Audiência Pública, por força de um requerimento do deputado Laercio Oliveira SDD/SE, para chamar à atenção de que o serviço voluntário regulamentado pela Lei nº 9.608/78, não se enquadrava nas atividades da Fifa e dos seus parceiros, não só pelos reiterados bilionários lucros, mas principalmente pelos prejuízos que o Brasil teve de engolir, pelos altos custos na construção das Arenas e pela isenção de impostos que alcançou o valor estratosférico de R$. 1.1 bilhão.  Mas infelizmente os interesses daquela entidade e também Rede Globo, parceira antiga da Fifa, emudeceram  os argumentos contrários, e foram vários, com base na utilização astuta, reitera-se, da imagem  do Ronaldo, e pior, de pessoas portadoras de deficiências, a transparecer que as contratações eram legais e que seria de grande valia para os pseudos trabalhadores, pela oportunidade de prestar serviços para um grande evento.   
Neste diapasão, agora devidamente comprovado, que a Fifa não precisaria ter explorado as 15 mil pessoas, tendo em vista que  a “Copa das Copas” foi o evento esportivo mais lucrativo da história, segundo divulgou a própria Fifa, incluindo Olimpíada, Mundiais e outros torneios.  O lucro da Fifa com a Copa do Brasil foi recorde;  US$ 8,3 bilhões, equivalente ao preço pago pelo  povo brasileiro, que arcou com 90% do custo da construção das 12 arenas que receberam os jogos. Segundo reportagem publicado no Jornal O Estado de São Paulo em 21/03/2015 (Esportes – pag.A29) o beneficio foi tão grande que até a Fifa tentou escondê-lo. Neste mefistofélico processo, logicamente só para os voluntários, US$ 158 milhões foram distribuídos para os clubes que cederam seus jogadores para a seleção de seus países disputarem o Mundial, incluído ai os Clubes mais ricos do planeta.  O que cada clube recebeu a  Fifa ainda não divulgou, mas com certeza deve ter sido bem maior do que os US$ 866 mil que  o Barcelona levou da Copa da África, em detrimento do povo sofrido daquele pais. Não obstante à época da divulgação dos números, março deste ano, o presidente Blatter pretendia – as denuncias de corrupção pode ter atrapalhado -  distribuir parte dos lucros com os cartolas presidentes das 209 Federações que compõem o colégio eleitoral da entidade. A Fifa tem em caixa hoje, cerca de US$ 1,5 bilhão.
Isto posto, passo a bola para a Rede Globo de Televisão, a CBF, o Comitê Organizador Local, o Ministério do Trabalho, o Ministério Publico, Ronaldo fenômeno, e, por fim,  as Centrais Sindicais que se beneficiaram e/ou se calaram silente com a exploração das 15 mil incautas e “ingênuas” pessoas.